miércoles, 24 de agosto de 2011

Crónica/ Bruno Eliezer Melo Martins



Vou lhe dizer o que é milagre. É você tomar banho com um minusculo sabonete ou melhor um resto de sabonete, uma folha de sabonete e ainda não deixa-lo cair. É entrar num onibus lotado e ainda sorrir para todo mundo. É vender uma cesta de doces debaixo do quente sol de verão. É dar um dia o osso ao cachorro e no outro comer a carne. Milagre é ver o sol nascer sem ter sono e ir dormir sem ele. É escrever a crônica do dia seguinte para o jornal local no sacolejo do ônibus lotado distribuindo sorrisos e vendo os que entram e saem. É dar ao cobrador o endereço e descobrir que ele é vizinho de sua pretendente. É dar asas a um grito e corta-las de passáro, sem que com isso deixe-o de fazer voar. Milagre é antes de mais nada sobreviver os anos da infância e os anos da juventude sem nada de espetacular, sem nada que marque a face ou o peito com uma ou algumas cicatrizes para toda vez que se ver refletido perceba sua história e deixe lembranças tristes mais belas, ou belas mas tristes ou ainda simplemente tristes. Como aquela da primeira namorada, da segunda e da terceira. Milagre é não ter essas lembraças infelizes e escrever para o jornal local. É usar o papel e a caneta como quem usa o martelo e a talhadeira. Milagre é ser o anti-milagre de morrer jovem mas num gozo, num pleno e verdadeiro gozo E ter uma profunda esperança de continua-lo por toda a eternidade.



Estudante do Curso de Relações Internacionais e Integração da Universidade Federal da Integração Latino Americana - UNILA

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